Aurora é o nome de um experimento conduzido pela Adaptive Path, liderado pelo Jesse James Garrett que versa sobre possíveis novas maneiras de usar sistemas online. O projeto está sendo feito para a Mozilla Labs como parte de uma série de conceitos que exploram como poderemos usar a web e tudo relacionado a ela no futuro.
Ontem o Eduardo Loureiro compartilhou com a lista dos alunos de Design de Interação os vídeos que o pessoal do projeto colocou na rede. A seguir, algumas considerações sobre cada um dos três vídeos disponibilizados.
Em primeiro lugar é de se notar o importante trabalho de tentar algo novo baseando-se em pesquisa e propondo o rompimento de barreiras. O trabalho é muito interessante e bastante coerente. Entretanto, algumas pulgas (como era de se esperar) estão atrás da orelha.
Antes de ler, assista os vídeos (1, 2 e 3).
Agora sim… Vamos lá. Sobre o primeiro vídeo, penso que a quantidade de elementos que o usuário tem no repositório e como ele (o usuário) os manipula parece ser um pouco distante da realidade da persona indicada no vídeo e o jeito que as coisas acontecem (na localização dos dados, por exemplo) parece um pouco confuso; principalmente a respeito do processo de busca e também da disposição dos elementos em três dimensões simuladas.
Vale aqui um destaque acerca da influência do design e do “jeito de ser” da Apple sobre o projeto.
Além disso, o jeito que os usuários interagem entre si através das ferramentas propostas para colaboração parece ser um pouco improvável. Pelo jeito que a coisa acontece, parece que os dois estão lado a lado, e não usando uma rede de computadores.
Ainda sobre isso, a questão do transporte (arrasto) e encaixe de dados para a interação colaborativa é bem interessante, mas tudo teria que vir da mesma origem ou os fornecedores de conteúdo teriam que adotar padrões bem planejados para que a coisa procedesse daquela maneira.
Muito legal o esquema da navegação espacial. Fiquei bastante curioso para saber mais do tal mouse (ou algo que o valha) que está suspenso em uma espécie de braço retrátil com o qual o usuário acessa o sistema espacialmente no esquema 3D proposto.
Ainda sobre o primeiro vídeo, achei que o jeito que a colaboração entre os dois usuários acontece – sem confirmação de alterações na interface solicitadas por um interagente remoto – também um pouco improvável. Muito no que diz respeito a como as coisas acontece mas sem deixar de considerar que na possibilidade de ter mais gente mexendo, corre-se o risco de cair na situação do “someone keeps stealing my letters”.
Sobre o segundo vídeo, me pareceu um pouco difícil que um dispositivo com aquelas dimensões e com aquelas características ofereça precisão e funcione daquele jeito – ou seja: com os elementos com aquelas dimensões – com as personas exemplificadas. Mesmo usando e testando a interface do iPhone, que parece ser a clara inspiração para o dispositivo, não dá para dizer que aquela movimentação de elementos na diagonal e os cliques em elementos carregáveis se dariam da maneira mostrada. Mas como dito anteriormente, é muito bacana que se tenha proposto a coisa. Como conceito é bastante interessante, mas esta é ainda a fase da pesquisa e ideação. É preciso ver como estes sistemas e dispositivos se comportam em seus protótipos e avaliá-los.
Além disso, como a interface é navegável em três dimensões simuladas, quando saber para onde o usuário quer ir quando as maneiras de interagir são em 2D? Lembremos que agora estamos num dispositivo móvel sem a traquitana de interação espacial anteriormente mostrada.
Na hora de ver se há pessoas próximas que pertencem ao mesmo grupo de turistas, percebi que o usuário toca na interface no ponto em que um dos elementos destacados do trajeto está. Como o sistema distinguiria um clique para saber mais sobre o elemento daquilo que foi feito no vídeo?
A “inteligência” do browser é algo a questionar. Como ele sabe que são férias e não uma viagem a trabalho? Apenas pela localização? Além disso, a lista de eventos é montada baseada na localização. O usuário não precisará fazer nenhum tipo de planejamento? Nenhuma preleção?
Muito bacana o sistema de filtragem pela localização atual, há de se destacar. O esquema de mostrar as possibilidades de destino para os elementos em arrasto é muito legal, embora não seja novidade aqui. A aplicação é bastante eficiente. Para finalizar as impressões sobre o segundo vídeo, o elemento arrastado é visualizado em arrasto e solto fora da área de contato; uma espécie de paralaxe proposital. No mínimo, desafiador.
No terceiro vídeo, algo me incomodou: o ítem “satisfaction” na barra de elementos superior. O usuário arrasta o elemento para uma área específica da interface e tem acesso às opiniões dos usuários. Além da associação de idéias ser um pouco forçada, a questão é: como se chegou a esta situação? Simplesmente tirando uma foto como o vídeo sugere me soa um pouco conceitual demais.
O narrador menciona o “workspace”, mas gostaria de ver os passos. É que me parece que seriam muitos, e aí, fiquei curioso. Embora este seja o propósito do vídeo, seria legal pensar também como o usuário chega ao cenário ilustrado. Obviamente eles estão pensando nisso, mas eu fiquei cá com meus botões pensando: de quanto tempo de interação o usuário precisou para chegar àquele estado?
Sobre a interface onde acontece a interação, novamente, para que ocorra o “encaixe mágico” proposto, muita padronização dos dados fornecidos se faz necessária. Dessa forma, num primeiro momento, fico a pensar como os fornecedores de informação e de serviços como os utilizados para montar aquela situação se sobressairiam uns comparados aos outros, uma vez que eles precisam ser muitos e precisam, antagonicamente, fornecer dados padronizados para que sejam utilizados no sistema da forma que foi ilustrado.
Por último, novamente acerca das linhas laterais de objetos, há um filtro que isola pessoas no ambiente da rede acessado pelo dispositivo no final do terceiro vídeo. Nos três vídeos, uma série de atalhos são usados e todos eles estão dispostos nestas linhas. Me pareceu que será necessário que o usuário passe grande parte do tempo configurando estas listagens, pois todas potencialmente mudam de acordo com a situação ilustrada. Veja o que eu estou querendo dizer nestas imagens retiradas dos dois últimos vídeos, abaixo.
Uau, muitas perguntas, né? Mas acho que é o esperado quando se propõe algo tão novo. Acredito que o pessoal responsável esteja recebendo muitas mensagens com perguntas semelhantes às minhas e – certamente – este tipo de colaboração influenciará bastante o desenvolvimento; espero que positivamente, embora lidar com todos os inputs seja um desafio enorme para a equipe.